um Escrito COLETIVO. buscar a cidade transviada e crioula. a cidade em fragmentos. declarações furtivas. Sonho e fantasia para uma cidade melhor.

24.7.05

Reinaldo Arenas p/o Presente 1

"Nossa história é uma história de traições, alistamentos, deserções, conspirações, motins, golpes de Estado; tudo dominado pela infinita ambição, abuso, desespero, orgulho e inveja. Até Cristovão Colombo, em sua terceira viagem, depois de descobrir toda a América, voltou para a Espanha acorrentado. Duas atitudes, duas personalidades parecem sempre estar em conflito na nossa história: a dos rebeldes constantes, amantes da liberdade e, portanto, da criação e da experiência, e a dos oportunistas e demagogos, amantes do poder e, portanto, praticamentes do dogma, do crime e das ambições mais mesquinhas. (...). Seja como for, a juventude dos anos sessenta deu um jeito não para conspirar contra o regime, e sim para atuar em prol da vida. Clandestinamente, continuávamos a nos reunir nas praias ou em casas de amigos, ou simplesmente desfrutávamos de uma noite de amor com algum recruta de passagem ou com um estudante bolsista, ou com um adolescente deseperado que procurava uma forma de escapar da repressão. Houve um momento em se desenvolveu, às escondidas, uma grande liberdade sexual em todo o país; todo o mundo queria transar deseperadamente e os rapazes ostentavam imensas cabeleiras (as quais, naturalmente, eram perseguidas por mulheres na menopausa munidas de grandes tesouras), usavam roupa justa e adesivos, copiando a moda ocidental; ouviam os Beatles e falavam de liberdade sexual. Em grupos enormes, nós jovens nos reuníamos na Coppelia, na cafeteria do Capri ou no Malecón, e curtíamos a noite apesar das ruidosas perseguições policiais." (In ARENAS, Reinaldo. Antes que Anoiteça. Rio de Janeiro, Editora Record, 1994. p.120-121)
(por dricafernandes@yahoo.com.br)

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