um Escrito COLETIVO. buscar a cidade transviada e crioula. a cidade em fragmentos. declarações furtivas. Sonho e fantasia para uma cidade melhor.

18.11.06

S/título 6

7.11.06

Do livro tibetano do viver e do morrer

"Confinados na escura e estreita gaiola feita por nós mesmos e que tomamos pelo universo inteiro, bem poucos de nós podem sequer começar a imaginar uma outra dimensão da realidade. Patrul Rinpoche conta a história de uma velha rã que passou toda sua vida num poço abafado e úmido. Um dia ela recebeu a visita de uma outra rã que vivia no mar.
- 'De onde você vem?, perguntou a rã do poço.
- 'Do grande oceano', a outra respondeu.
- 'Que tamanho tem o oceano?'
- 'É gigantesco.'
- 'Mais ou menos um quarto do meu poço?'
- 'Muito maior.'
- 'Maior? Você quer dizer metade?'
- 'Não, maior, muito maior.'
- 'Assim... do tamanho do poço?'
- 'Sem comparação!'
- 'Impossível! Tenho que ver isso com meus próprios olhos.'
Puseram-se juntas a caminho. Quando a rã do poço viu o oceano, o choque foi tão grande que sua cabeça explodiu em pedaços."

retirado de Rinpoche, Sogyal. O livro tibetano do viver e do morrer. SP, Palas Athena, 1999.

por dricafernandes@yahoo.com.br

2.10.06

PATRÍCIA LUBUMBA FOI
A QUITO E ESCREVEU DOIS POEMAS
QUE O e-raimundo APRESENTA
EM PRIMEIRA MÃO.
TAMBÉM TROUXE O POSTAL
DE BOLO FRANCO:
"MAMA TUNGURAHUA
SE MANIFESTA".
___________________

O exagero fez parte de mim
a ponto do vulcão despertar.
Vulcões e dragões despejaram-se
de mim

QUITO A CIDADE COMIDA

Quito da pétala de rosa comida
aromatizada de baixo da língua
lá na Mirage
Quito dos pavões e fontes no jardim
Quito do queijo de hoja
Do locro de papa
Quito do abacate boiando no quente

Quito do maio 68
Quito do Pablo e Jorge
Quito da coca
de Belém
Quito do balão e do vendedor de balões
do teleférico mais alto do mundo

...precisamente 4.100 mil metros em direção ao céu

4.100
Quito do quase nas nuvens
Quito do acido doce das tangirillas com cara de abóbora,
- espinho quase invisível
- que incomoda sem incomodar

Quito do guarda noturno gentil
Do guarda belo e mandachuva
da Capoeira brasileira
da gringa histérica
do taxista sonhador com o carnaval do Brasil
Do couro
Couro de porco nas ruas de Quito


______


LATUMBA DE MARISKAL

Quito do Vulcão
Quito do quarto quente de papel
Quito do papel branco
da poesia
das putas
dos couros
do alto
terra de vulcões que me comem por dentro
até as entranhas da Capilla

A espada do Mariskal
entrou por mim
desenhou sua trama a ponta de faca

23.9.06

Sejamos Imperialistas Sejamos

bobagem:
estamos
em vultos
perdidos
como poucos/

os adjetivos
mal vistos
são tolos quando querem ser
outras vezes essenciais ao signo/

fudidos e estamos
um tipo de polícia quer que não usemos
os tais adj./

juro que se fosse fácil
largá-los
eu virava botija
para a cantora da esquina de casa:
a voz da vez
acalento à solidão menor
lembra-nos
há delicadeza eh irmão
e lirismo/

uma vagabunda
é fato
uma população de rua?
o cerebelo inundado em alcoolzinhos de
dia antante
que importa?/

saudemos o grosso
modo intermitente
mas da
pura
posto Sobreviva/


por
dricafernandes@yahoo.com.br

26.7.06

e garrincha disse love love love

nessa noite basbaque flamenguistas tentam se animar com a vitória acho de campeonato: o futebol como cachaça já na idade de quando se amanhece amargo. pela terna juventude bebidas & coisas como galhofa zombaria. em maturidade pequenas enxaquecas lapsos de memória. finalmente na idade avançada diante da Coisa Maior ela persevera em retirar pedacinhos. ao menos há esse tipo de água santa pois que futebol não passa de $ e tédio. procura-se. procura-se eterno seu ser espontâneo de várzea em peitos cabeludos. barrigas de afeto. pombos sempre em casal. procura-se eterno.

26.6.06

blog caximir buquê

do blog "caximir buquê"
de eduardo ferreira, Cuiabá (MT)


girando em círculos

a cidade acontece aos poucos.
se acaba
nas vitrines do horror. asas de anjo de plástico enfeitam templos
de pedra.
longos e tristes trópicos -

desocupados se arrastam nas vias
marginais
buscam lugar para jogar seus corpos
aquecer
se decompondo - atrozes carniças
sombras soturnas
despossuídos peregrinos

as vias se multiplicam em faróis coloridos
ilusão para a rotina
rios de chamas

a cidade é viva e misteriosa
muito além dos seus muros -
vigilantes corpos
diante do vertiginoso movimento da vida
gira
gira
gira

18.6.06

5.6.06

Poemaqua

Rios são ruas d’água
Nu vens em gotas
A pele dos olhos nus
Chama pálpebras
de neblina
densa ou espessa
Ainda vê-se:
a grama foi cortada rente
e continua verde
como o branco da neblina
e de certas rosas vermelhas.

27.5.06

A Copa, o Brasil e Elizabeth Bishop

Há quase 50 anos atrás a poeta norte-americana que morou no Brasil comentava (em 03 julho de 1958):
"(...). Ontem nos divertimos ouvindo (pelo rádio) a volta da seleção brasileira de futebol da Suécia - eles finalmente ganharam o campeonato mundial e todo o Brasil está em êxtase - até os bancos fecharam. É muito mais importante para eles do que seria um Sputnik. Parece que o time foi apresentado ao rei da Suécia, e um deles perdeu a cabeça atentou abraçar o rei, à maneira brasileira. Eles são mesmo umas gracinhas - uns homens baixinhos, de todos os tons do negro ao branco, e se abraçam e se beijam e choram de entusiasmo quando fazem um gol etc. - e correm muitíssimo depressa. A Lota estava voltando do Rio e levou horas num engarrafamento - foi uma multidão ao aeroporto, e os pobres jogadores não podiam nem mesmo sair do avião - ficaram trancados lá dentro. Doze jatos os acompanharam. Todo mundo acha que isto significa que virão 'dias melhores para o Brasil'. Deus sabe por que, ou de que modo - e este é um bom exemplo do jeito de ser deste povo tolo porém simpático. Nossa cozinheira chegou a usar ramos de salsa e ossos, veja só, para enfeitar o cozido com a imagem do jogador predileto dela.(...)."

(do livro Uma arte: as cartas de Elizabeth Bishop. p.386)

14.5.06

QUEM TEM MEDO DE DULCE VEIGA?

É dia das mães. Dulce Veiga, vulgo Sra. Bishop, está com o neto na janela, primeiro andar, olha nós todos como o porteiro que não há. À espera talvez de sua amiga, da lavanderia Flor de Coimbra. Sua amiga ganha o pão-de-cada-dia passando roupa na lavanderia Flor de Coimbra. A janela de Dulce Veiga, nossa vizinha, passa o dia aberta. Ligada ao movimento do prédio e da rua. Em compensação, pela janela escutam-se conselhos, brigas, detalhes de gripes, neste outono em que os jornais servem somente para embrulhar peixes na feira.

28.2.06

Carnaval maristotélico

Carnaval maristotélico

Aos modernistas estudados,
agradecemos o percalço de tentar salvar os peixes.
Peixes que comeram os peixes, que comeram os peixes
que agora somos.
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral!
O vasto mar viu-se obrigado a trazer novos peixes!
Nos tornamos coloridos, variados!
Alimentados por ventos, raízes e chibatas sangrentas.

Filhos de olhos azuis na pele nêgra!
Cabelos lisos na tez avermelhada, clareada no neto lusobrasileiro!
Somos quem somos.
Um não ser,
mas que é peixe!
Peixe mestiço!

Muitos morreram.
Mas olhe lá! Um novo peixe!
Este canta e batuca!!
Passa mulata,
passa nordestino,
passa o negro,
o cafuzo...
Um índio!
Ah! meu ouvido bom!
Das pequenas casas, ouço sons disfarçados.
O que na frente é sambão, atrás é pleno chorinho!
AH! Ciatas danadas que até música fizeram nessas casas proibidas de viver!
E que na música e na dança se criaram,
todos sem vergonha!!!

A Nau Imperial insistiu em estabelecer as fronteiras nessa terra..
Desejavam a "limpeza da raça".
Loucos! Somos mestiços!
Não adianta mais, caolhos algozes, importar comportamentos albinos,
raças limpas...
Brasileiro/Misturadeiro.
Se agitem pandeiros!

Que tal de "Belle époque' é essa que derrubou cortiços, morros,
abrigo de onças, sabiás, jaguatiricas e gente!
Que nunca brincou de peteca e mamulengo,
que nunca comeu pipoca, paçoca, cocada e maniçoba...
Que nunca viu saci, curupira, Iara e Janaína?!
Pois no Brasil, tem cafuné na cabeça, prá dengo de neném!
Tem samba animando o caboclo.
Tem Iaracema em Ipanema!
Tupy or not Tupy:
Isn´t the question!!!

21.2.06

8.2.06

poesia e verdade1

porque sendo perigoso eu não desfaço de lugares de sentidos apetrechos do que não é funcional que está empoeirado não mexido faz eternidade. isso tudo quem vai saber pode abrir um baita chão ó com motivos em direções várias com falas faltas em telefonemas pessoas pessoas a rôdo pra quê? pra quê? pergunta pedrão: sábio em verve num passo tcheco, agora, depois q foi a casa de queridokafka. alimento já novidade estes escombros meticulosamente para guardar mil direções em flechas emoções q não posso mas lanço-me. e isso tem um preço garoto/ - aê, isso tem preço, maluqueira/ - lacuna, maluqueira e a pessoa exorta o tempo, o breu p ser máscara, maluqueira/ - aê, isso até como modo de existência, quem pode desdenhar? eu desdenho, desdemona, como os porcos eu desdenho, desdemona.

Joan Brossa p/Rio de Janeiro

2.1.06

Maria Sem Vergonha

Tá todo mundo puto com a Maria Sem Vergonha
que não trabalha,
não sustenta,
não se aguenta,
mas nem parece!

Tá todo mundo puto com a Maria Sem Vergonha
que toma bola de maluco,
cheia de vozes na cabeça,
travando o corpo e o gozo,
mas nem parece!

Tá todo mundo com a Maria Sem Vergonha
que quer ser ela,
ela mesma,
e paga o preço com bom disfarce.

Disafarce de gente que ri,
que não tem monstro dentro de si
e o remedinho fazendo efeito,
dá o contorno
Mas nem parece!

Tá todo mundo puto com a Maria Sem Vergonha
que virou malandra sem pegar no taco,
sem rezar na Lapa,
sem dizer o que pensa.
Que pegou fama deitando
anônima na cama,
que leva a morte na calcinha
quiném bagulho prá
não dar pinta

Maria Sem Vergonha
tem medo de gente
enterra os mortos,
cai no drama e
se acaba no samba!

Maria Sem Vergonha,
é tão sem vergonha
que nem parece!