um Escrito COLETIVO. buscar a cidade transviada e crioula. a cidade em fragmentos. declarações furtivas. Sonho e fantasia para uma cidade melhor.

20.3.05

"A Rua" de João do Rio

"Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia — o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua."

In A Alma Encantadora das Ruas (1952)

17.3.05

CROMOBJETOS de Jorge C./Naoko Takahashi

por dricafernandes@yahoo.com.br

Buscar na cidade – com camelôs, ambulantes, transeuntes - o sentido. Perceber de soslaio para esquecê-lo no momento seguinte, mas ainda um sentido, que seja, de passagem, que seja, na vulnerabilidade da quinquilharia chinesa, nascida para consumo veloz e lixo.
Walter Benjamin, filósofo judeu que guardava miudezas e usados em geral nos quartos onde habitou, adorava Mickey Mouse e era marxista. Benjamin, o moço canceriano, o moço que acreditava na memória da sociedade descartável do capital. Este moço judeu indagava se seria possível com a mecanização da sociedade e da condição humana contar uma história. Seria possível contar uma historia para as próximas gerações? Era possível no mundo-breve dividir uma experiência com seus pares? O nazismo mais que desdenhou suas preocupações. Não seria possível amplificar o humano. O sonho de uma “humanidade” destinado ao fracasso.O Homem um homenzinho.
Benjamin discordando de seus parceiros marxistas. Para ele era possível perceber no efêmero e nos fragmentos narrados uma experiência. Ainda seria possível contar uma história desde que não ficássemos na nostalgia da tradição. O capital desfaz e refaz a tradição. O capital encena modas. O capital enterra modas. O capital é seu próprio coveiro como vaticinou São Marx. As modas são passatempos. O capital não pode estar em muitos transeuntes. O capital é avaro. O capital é o consumo. O capital tira emprego, o capital alimenta seu monstro - o desemprego seu kamicaze. Fazer da cidade uma resistência ao consumo.

Os Cromobjetos abaixo postados invocam a idéia de Walter Benjamin. Por trás dos fragmentos e anúncios da cidade, o desmanchar do capital é destino. No gasto das embalagens plásticas despontam outros sentidos. No gasto das embalagens o gosto do sentido, o riso do ridículo, a surpresa. A cidade plástica a experiência plástica: fugir do capital em seu plástico.
Jorge Luís atualizando o saco que envolve o colchão novo o qual Ligia Clark usou como modo de ser-expandir-se em seu espaço, abrir e sair do saco, ser um saco ser o soco vivo certeiro.
Ver o dinheiro em seu esgarçar, como papel que ele É. Como papel gasto.
O “pago não troco” revela o capital-imperador, na trama dia-após-dia para existir.
Ver e rever Cromobjetos na cidade - para sempre - é só tentar.
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8.3.05

A desatenção narcisista do mundo que não anda mudado

(de Patrícia Azevedo/ pati@ibam.org.br)

Desarticulado, o moço claudicando pára.
Pelo sim pelo não, pelo sim pelo não.
Não sabe das vestes que usa
Não sabe que o caminho além de tortuoso tem nuvens.

As nuvens amontoadas servem para amortecer o sol
Que, mesmo com a cisma do moço, clareia seu vagarinho
E, também, as folhas de papel pisadas pelo pé do moço enfadonho
As folhas indicam sujeira misturada a gotinhas do sol, pleno em seu total descabimento.

O moço vaga diante das gotinhas para logo voltar a parar
O moço encontra uma nota de 50,00 pratas no chão sob as folhas de papel
Pega o papel e guarda cuidadosamente no bolso
Enquanto pica com prazer a nota descomunal
Amaldiçoa quem a perdeu e faz piadinhas
Ri gostosamente vitorioso e impulsionado pela satisfação pula muito
Alcançando o olhar de um narcisista que solene-mente passa tentando passar por desapercebido .




7.3.05

"natureza-morta1" Posted by Hello